terça-feira, 1 de setembro de 2009

O Pretto que dita a letra

(Esta reportagem foi publicada no caderno Enfoque do Jornal Diário Serrano que é encartado em toda a região)

Na estância de Cruz Alta nasceu um guri compositor. A vida campeira de piá taludo fez da tradição do Rio Grande um marco em sua existência. João Alberto Pretto “tem a lida dura e a idéia madura” e assim construiu uma baita literatura da vida galponeira, cantada pelos repontes de Norte a Sul deste país.
O Dr. João Alberto Pretto atualmente reside em Tenente Portela. É médico pediatra, casado e pai de dois filhos que também exercem medicina. É letrista de música tradicionalista há 30 anos e já possui mais de 300 canções registradas no ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) que é o órgão responsável pelo monitoramento dos direitos autorais de músicas no Brasil.
Dr. Pretto conta que sua infância foi vivida sobre o lombo de um cavalo, na fazenda de seu pai, na cidade de Cruz Alta. O trabalho por lá era legítimo de um gaúcho dos pampas, pois seu benfeitor era um gaudério nato, que tocava tropa e apreciava o bom chimarrão. Com 15 anos João Alberto Pretto saiu da estância de seu pai para estudar. Quando estava com 20 anos, viu seu velho falecer.
Nessa época Dr. Pretto já mostrava ter o dom de escrever bons poemas que representavam a alma galponeira. Tamanha era a dádiva de Pretto que ele compôs o Hino de Formatura da sua turma de medicina.
O médico pediatra explica que a vivência na fazenda de seu falecido pai, rodeada por manifestações de gauchismo, foi um somatório para suas composições. “Já escrevia quando piá, porém com menos qualidade, e nem sonhava que um dia uma canção minha seria gravada” afirma Pretto.
Manifestações de cultura galponeira Pretto já apresentava desde a infância, contudo até então não teve oportunidades de apresentar sua composição. Até que nos anos 80 surgiram os Festivais Nativistas de Música. Em vários deles suas composições foram descartadas, até que em uma feita destas, uma letra de Pretto interpretada por Valdomiro Maicá classificou-se em um festival. Desbancando até mesmo César Passarinho, a canção “Rio Uruguai” de Pretto e Maicá, foi um dos destaques daquele Festival, e fez parte do disco do evento.
Esse foi o pontapé inicial para as letras do Dr. Pretto virarem sucesso pelos pagos do Rio Grande do Sul. O médico acredita que “o tempo é a escola da vida”, e é graças a ele que sabe o que escreve em suas letras e conhece o sentido dos termos.
Dos festivais Nativistas que participou, Pretto conquistou mais de 50 troféus, das mais variadas premiações existentes. Mas o médico reconhece que os méritos não são apenas seus. Para ele, se os grupos musicais nativistas e fandangueiros não musicassem as letras e não colocassem sentimento quando cantam, suas letras seriam meras poesias de parede. Para tanto, de todos os festivais que participou, Pretto sempre deixou a premiação em dinheiro para o grupo que interpretou sua letra, reconhecendo o papel daqueles que, segundo ele, “são verdadeiros exemplos profissionais da nossa música”.
O médico e compositor Pretto mantém fortes laços de amizade com grandes interpretes e compositores da música gaúcha. Ele lembra um verso da canção Doutrina de Gaúcho para demonstrar o valor que dá as amizades: “Sou como um rio que vai legando mil caminhos, tirando espinhos em cada aperto de mão”. E dentre todos seus amigos e parceiros cabe destacar a amizade com Martin Agnoletto e Pedro Neves, que são co-autores dos seus maiores sucessos: De Chão Batido e Tirando meu Chapéu pra Deus.
A música De Chão Batido é um sucesso nacional e já apresenta 19 regravações, entre elas a do Conjunto Los Celestiales, do Paraguai. A canção foi considerada a música Revelação Galponeira dos últimos 15 anos, sendo a mais rodada nas rádios do Rio Grande. Segundo Dr. Pretto, a música Tirando meu Chapéu pra Deus, está seguindo o mesmo rumo do sucesso De Chão Batido.
A vida de médico pediatra fez com que Pretto passasse a não participar assiduamente de Festivais. Mesmo assim, o galponeiro Dr. Pretto continua trabalhando em novas composições. Ele revela que já possui mais de 100 letras prontas, que futuramente serão enviadas a interpretes da música tradicionalista e fandangueira. Ele diz que “uma letra, independente de sua qualidade, só terá chance de vir a ser um sucesso se tiver uma grande música com a voz ideal ao tema, associada a interpretação, harmonia, vocal e o mais importante: simplicidade”.
No dia 4 de julho de 2009, em Três Passos, o grupo Os Monarcas fez o lançamento de um CD com as composições do Dr. Pretto. Com o título Os Monarcas interpretam João Alberto Pretto, o disco traz 14 faixas compostas pelo letrista, que mostram o verdadeiro talento de um médico preocupado em valorizar a tradição gaúcha.
Mesmo com todo o prestígio no mundo da música fandangueira e todo o talento na composição, Dr. Pretto não é músico renomado. Como ele mesmo define, apenas “arranha” um pouquinho de violão e de acordeom. Mas convenhamos, nem precisa tocar e cantar, se continuar escrevendo em cima “de chão batido”, e se continuar “tirando ‘o’ chapéu pra Deus”, a tradição galponeira da música tradicionalista continuará com a chama resplandecendo nos pagos do Sul e do Brasil.

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